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Enquanto estudava arquitetura na universidade, eu sonhava em fazer um trabalho voluntário que ajudasse pessoas a viver com dignidade nos lugares mais remotos do mundo. Pensava em construir abrigos em áreas afetadas por desastres naturais, devolver a auto estima para pessoas que perderam tudo o que tinham, depois de enfrentar tragédias poderosas em grandes furacões, tempestades, inundações. Eu sabia que era possível pôr a mão na massa e fazer a diferença na vida destas comunidades.
Com um tempo de pesquisa, descobri inúmeras ONGs que atuam neste setor e a All Hands Volunteers me chamou a atenção. Com uma boa organização estrutural, clareza nos relatórios financeiros e feedbacks das equipes, a All Hands Volunteers me pareceu a opção ideal para ter uma experiência de trabalho voluntário e ainda, deixar um impacto positivo em algum lugar do mundo. Durante alguns anos pensei em ir pra Filipinas ou Nepal, mas a oportunidade que tive foi de ir ao Peru ao final de 2017.
Antes de mais nada, o que é a All Hands Volunteers?
All Hands Volunteers é uma ONG que engaja milhares de voluntários ao redor do mundo. Já somaram mais de 37.000 voluntários a impactar 500.000 pessoas. Sua história começou com a ajuda espontânea de David Campbell na Tailândia, após o terremoto seguido de tsunami em 2004. Ele também trabalhou com a recuperação nos EUA, após o Furacão Katrina em 2005. Em 2010 estas iniciativas deram surgimento à ONG All Hands Volunteer, que já soma mais de 50 programas ao redor do mundo. Atualmente os projetos estão localizados nas Ilhas Virgens (EUA e UK), Porto Rico, Texas, Peru e Nepal.
Já a Happy Hearts Fund foi fundada pela supermodelo tcheca Petra Nemcova, após sobreviver ao mesmo tsunami de 2004 na Tailândia (ela ficou 8 horas em uma árvore esperando ajuda e seu noivo faleceu, ao ser arrastado pelas ondas – somente semanas depois o corpo foi encontrado). Quando ela retornou um ano depois ao país e viu que nada tinha melhorado, resolveu criar essa ONG para reconstrução de escolas. Serviu 10 países – Nepal, Tailândia, México, Peru, Haiti, Chile, Filipinas, Colombia e EUA – onde construiu 171 escolas.
Em novembro de 2017 as duas ONGs migraram e formaram All Hands and Hearts, que une esforços para resposta e recuperação aos desastres naturais.
O destino: Peru
O Peru sofreu com fortes chuvas de dezembro de 2016 a junho de 2017, causando severas inundações, deslizamentos de terras e torrentes de lama ao longo do país, em razão da do fenômeno El Niño Costeiro (24 das 25 regiões do Peru foram afetadas, assim como o Equador). Segundo os dados oficiais, coletados em maio de 2017, 1.6 milhões de pessoas foram afetadas, 147 faleceram, 59.732 casas foram destruídas ou estão em situação de risco e 2.759 escolas foram afetadas.
A ONG chegou ao Peru em março de 2017, na fase de resposta ao desastre e durante alguns meses assistiu o município de Huarmey, removendo lama das habitações e escolas. Posteriormente, na fase de recuperação, direcionou-se à região de Piura, onde a maior parte das escolas foram destruídas. Construíram uma em Puerta Pulache (ago 2017) e estão agora (fev 2018) finalizando duas escolas em Yapatera. Esta é uma região de serra, muito quente, com boas semelhanças ao nosso sertão nordestino.
Estas são as informações oficiais do projeto da ONG no Peru:
Resposta (abril – julho 2017)
3000 pessoas impactadas
2000 estudantes retornaram às aulas
18 escolas/ hospitais foram desinfetados do mofo
47 estruturas inseguras foram demolidas
158 residências e vizinhanças limpas de lama e entulhos
2 escolas temporárias construídas
1 casa temporária construída (colaboração com Techo para mí país)
Recuperação (julho – atual)
129 Voluntários
284 pessoas impactadas
2 escolas permanentes construídas
2 banheiros construídos
1 campo de futebol recuperado
Ao entrar no site deles, escolhi o destino do projeto no Peru, e preenchi um formulário com as minhas habilidades e disponibilidade de trabalho. A seleção é bastante simples. Basicamente você precisa mostrar que está disposto ao trabalho duro, saber se virar em inglês e ter um tempo suficiente para o trabalho (a maior prioridade é a compatibilidade de horários da sua disponibilidade com a necessidade de equipe no local).
Como é uma ONG bastante voltada para a construção, o trabalho vai ser pesado. Os coordenadores e responsáveis pela obra são engenheiros e arquitetos, mas os voluntários não precisam ter experiência nesta área. Precisam ter condições, boa disposição e saúde para trabalhar duro.
Foto: Florian Lubian
Após a inscrição, em alguns dias recebi a resposta que estavam lotados para o período e que voltariam a rever minha ficha no próximo mês. Assim aconteceu e recebi a resposta de que poderia ir para lá, com data de ida e volta pré-agendadas. Eles pediram uma segunda confirmação com o preenchimento de uma nova ficha, solicitando informações de vôo e consentimento sobre os deveres e responsabilidades de voluntária.
Eu gostei ainda mais da ONG pelas inúmeras regras para manter o foco no trabalho e ajuda à comunidade. Eles possuem toque de recolher, restrição de bebidas, proibição do uso de drogas, entre outras regras que ajudam a confiar na seriedade da ONG.
Com isso tudo pronto, recebi a confirmação com os detalhes sobre o projeto (como chegar, como é a rotina, o que levar, etc.) e o canal da comunidade para já interagir com os voluntários e a equipe.
Fiquei instalada de 18 de dezembro de 2017 a 16 de janeiro de 2018. Foi cansativo, mas é uma experiência extremamente enriquecedora. Foi a primeira vez que passei o Natal e o Ano Novo longe de tudo o que eu conhecia, mas foi maravilhoso! Fizemos atividades com a comunidade, brincamos na base, fizemos churrasco juntos, dançamos, soltamos fogos e refletimos sobre o significado do nosso trabalho na vida de tantas pessoas.
Foto: Michael Demas
Também refletimos sobre os privilégios que muitos temos nos nossos lares e agradecemos pela oportunidade de fazer a diferença no mundo, de alguma forma. Realmente uma experiência única! Me senti em família, chorei, sorri, abracei. E quero fazer tudo isso de novo!
Viajar é sim uma transformação interna grande. Mas nossas viagens podem causar um impacto positivo e sermos conscientes disso pode ser o primeiro passo para a mudança que queremos no mundo!
Nos vemos nos próximos artigos, onde contarei mais sobre a minha experiência como voluntária no Peru.