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Se você for visitar o Campo de Concentração de Dachau, prepare-se para ter uma experiência brutalmente arrepiante. Você vai ver os horrores de uma guerra que ocorreu há pouco mais de 70 anos e vai se deparar com fotografias, ilustrações e objetos utilizados como ferramenta para um dos maiores genocídios da história do planeta. A visita não será fácil e provavelmente te fará chorar um bocado durante todo o trajeto. Porém, sem dúvida alguma, este é o tipo de passeio que vai te fazer refletir sobre a intolerância, o preconceito e a violência, e sobre como a humanidade deveria enfrentar estas questões na atualidade. Preparado?
É uma visita de aproximadamente 3 horas, considerando a visita às instalações, exposições e espaços do Campo de Concentração de Dachau. O centro de informações é a primeira etapa da visita, onde você pode retirar o seu flyer e o áudio guia, disponível em vários idiomas. Eu recomendo que você faça a visita com o áudio guia (€ 3,50) para entender com mais detalhes cada etapa do trajeto. Há também a opção de fazer este passeio com um tour guiado (€ 3), que acontece diariamente em inglês às 11h e às 13h (em alemão às 12h). Quando eu cheguei a Dachau já não havia visita guiada acontecendo, e portanto, aluguei o áudio guia em Português, e lá fomos nós em direção ao trajeto sugerido pelo mapa.
A primeira parte da visita é um percurso pela Jourhaus, a entrada do campo, por onde chegavam os prisioneiros para o trabalho forçado no lugar onde se instavala uma antiga fábrica de munições desativada. Os mais atentos vão notar as placas de homenagem à libertação do campo pelas tropas americanas, em 29 de abril de 1945. O campo foi aberto para trabalhos forçados em 1933.
Passando pela Jourhaus, você chegará ao edifício onde há uma exibição permanente do Campo de Concentração de Dachau com fotos, documentos, livros, exposição de um documentário (22min) e exposições temporárias sobre o campo de Dachau e o holocausto. Nesta parte você pode preparar o lencinho de papel porque vai começar a choradeira. Logo em seguida você vai notar uma das esculturas mais tristes e perturbantes que você verá na sua vida, feito pelo artista iugoslavo Nandor Glid, em memória aos quase 200 mil prisioneiros de distintas nacionalidades que foram deportados para o Campo de Concentração de Dachau. Junto ao monumento, a frase escrita em alemão, inglês, francês e russo: “Que o exemplo daqueles que entre 1933 e 1945 deram a sua vida para lutar contra o nazismo una aos vivos em defesa da paz e da liberdade e em respeito à dignidade humana.”
Em seguida, você chegará ao edifício de intendência, por onde os prisioneiros deveriam se apresentar à revista diária e onde se localizavam algumas instalações como a cozinha dos prisioneiros, a oficina, a lavanderia e alguns espaços precários e completamente deprimentes, como o banheiro dos prisioneiros, por onde os recém chegados deveriam passar durante o ritual de entrada. O ritual de entrada consistia em uma primeira catalogação do prisioneiro, que perderia seu nome e seria identificado apenas por um número. Em seguida, os prisioneiros deveriam despir-se completamente, entregar todos os seus pertences e submeter-se ao torturante banho coletivo, onde após o processo, receberiam os seus uniformes. Eu não vou entrar em detalhes sobre este processo de entrada, deixo para que vocês descubram a crueldade com os próprios olhos chegando lá.
Ainda com fôlego para prosseguir a sua visita ao Campo de Concentração de Dachau? Você irá passar pelo bunker, onde alguns prisioneiros eram submetidos a métodos mais severos de “disciplina”, de acordo com crimes julgados pela própria SS. Várias práticas de tortura eram realizadas nestes bunkers, levando à morte inúmeros prisioneiros. Seguindo a visita, você chegará à praça de revisão e às “camas” designadas àqueles que, por serem opositores ao regime ou pertencerem a etnias e religiões distintas, eram submetidos. O Campo de Concentração de Dachau foi construído para comportar 6.000 pessoas e no final da guerra, havia mais de 30.000 prisioneiros em condições subumanas vivendo no local.
Em seguida você passará pela enfermaria, onde os médicos, para cumprir com seus “experimentos científicos” faziam todo o tipo de testes com os prisioneiros, onde muitos homens morreram, depois de terem sido submetidos à procedimentos cirúrgicos, transplantes e testes médicos. E ao final do passeio, está o crematório e a câmara de gás. Nem preciso dizer do que se tratam estas salas. Ao lado estão alguns monumentos religiosos católicos, protestantes, ortodoxos e judeus, erguidos posteriormente no Campo de Concentração de Dachau.
Há fotos do Campo de Concentração de Dachau com pilhas de cadáveres jogados num canto como se fossem restos de lixo. Há rostos pálidos, magros e olhares entristecedores. Dachau foi o primeiro campo de concentração aberto na Alemanha e um dos modelos para a construção de outros campos nas áreas de ocupação nazista. Cerca de 200 mil pessoas passaram por ali e 30mil foram mortos no Campo de Concentração de Dachau. Quando as tropas americanas chegaram, havia cerca de 30mil prisioneiros vivendo em Dachau, sendo 10mil em condições precárias de saúde. Entre os presos, boa parte era formada por judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e comunistas, vindos de países como a Polônia, Rússia, Ucrânia, França, Itália, Iugoslávia, Rep. Tcheca, Hungria e Alemanha.
Termino de escrever esta parte do texto com náuseas e muita tensão nos ombros. É impossível ficar indiferente aos terrores desta guerra e é impossível não se afundar em um mar de reflexões e pensamentos sobre tudo o que ocorreu há tão pouco tempo neste lugar que hoje é o Memorial do Campo de Concentração de Dachau. O que mais me impressiona, já disse aqui algumas vezes, é a forma como esta história é contada na Alemanha. Eles não tentam esconder o problemático e vergonhoso período que passou no seu país, pelo contrário, eles assumem tamanha monstruosidade e com muita resignação estampam o problema para todos. Quando eu estive em Dachau, havia um grupo em visita escolar, eram crianças de cerca de 10 anos de idade com seus professores, passando pelas mesmas salas onde eu me debulhava em lágrimas e com coração apertado tentava colocar os pensamentos em ordem. Enquanto as crianças ouviam atentamente que os erros do passado devem ser estudados para que eles não se repitam no futuro.
Afinal, é para isso que serve uma visita a lugares como o Campo de Concentração de Dachau. Para aprendermos com os erros do passado, refletirmos sobre as atitudes humanas e sobre as consequências das nossas atitudes. Vale para conhecer a história e reconhecer que nesta história a intolerância e o preconceito foram a primeira faísca para as atrocidades cometidas nesta época, e que, infelizmente, ainda hoje, são também a faísca para a violência dos nossos dias. Você dificilmente conseguirá sorrir durante esta visita, mas provavelmente sairá de lá com uma lição a mais aprendida.
A chegada ao Campo de Concentração de Dachau pode ser com o transporte público ou de carro. Se você estiver em Munique, pode chegar até a estação de Dachau com o trem S2 (25 minutos) ou com a linha de trens regionais (15 minutos). Informe-se na estação principal de Munique sobre os dois trajetos. Chegando à estação de Dachau, há duas possibilidades: a pé (30 minutos), fazendo o mesmo caminho que os prisioneiros faziam até a chegada ao campo, um caminho repleto de placas e referências em memória aos prisioneiros, ou de ônibus (linha 726) até a parada “KZ-Gedenkstätte”. Mais informações neste site aqui. Se estiver de carro, saindo de Munique, é possível chegar pelas rodovias A8, sentido Stuttgart, A9, sentido Nurenberg. Tem um estacionamento no local por € 3.
Endereço: Alte Römerstrasse, 75, D-85221 Dachau
O Campo de Concentração de Dachau está aberto diariamente, das 9h às 17hs, (exceto dia 24 de dezembro) e a entrada é grátis. Quem quiser fazer visita com grupo maior, pode conseguir as informações no site do Campo de Concentração de Dachau ou através do telefone +49 (0) 81366997-0. Para quem tiver mais interesse em conhecer esta história, o cemitério de Dachau é também um lugar em homenagem aos mortos no campo de concentração e fica a cerca de 5km do memorial, sentido Weblinger Weg. No memorial há uma pequena lanchonete e uma livraria com mais documentos e materiais sobre a segunda guerra mundial.