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O Thales é um amigo meu da época da pós-graduação! Quando nos conhecemos, ambos morávamos em São Paulo e pouco tempo depois que a pós terminou, o Thales resolveu se mudar de Sampa para Joinville, sua cidade natal. O tempo passou e depois algumas reflexões, o Thales sentiu que precisava passar um período viajando pelo mundo, mais precisamente, pela América Latina, perseguindo um sonho que ele tinha desde a adolescência. Para completar, ele queria fazer essa viagem sozinho, de carro! Mas não um carro qualquer, que fique claro! Para esta viagem, o Thales revisou e preparou uma Kombi Touring 1978 original e hoje viaja pelas estradas do continente na sua própria casa ambulante!!! DEMAIS!
Hoje a entrevista da semana é com este aventureiro e viajante pelo mundo, o Thales Puccini! Conheça suas histórias e se inspire você também! Quem sabe você não se anima para uma trip como esta?! Eu já estou pensando no assunto, vambora gente!!! 😛
Por que você resolveu fazer esta viagem?
Tenho o sonho de conhecer o litoral da América do Sul desde que comecei a surfar (com 14 anos) e esse sonho ficou adormecido por muito tempo. Nos últimos tempos, vinha refletindo muito se estava feliz e satisfeito com o que vinha fazendo e ao que vinha me dedicando (tanto na parte pessoal quanto profissional) e a resposta, depois de muita reflexão, foi que eu não estava satisfeito com a minha rotina e estilo de vida.
Essa reflexão me levou a buscar maneiras de mudar esse sentimento de frustração e o que falou mais alto foi buscar a realização de sonhos antigos, como dar uma volta pelo litoral da América do Sul. Quando a decisão foi tomada, bastou planejar e executar e assim cá estou viajando pela América do Sul de Kombi!
Precisa ser rico para fazer uma viagem assim?!
Nem de perto precisa ser rico para fazer uma viagem assim! Porém, é imprescindível uma boa organização e planejamento financeiro para que as questões de viabilidade do projeto sejam atendidas. Cada viagem tem suas características e demandas, e todas as idéias podem ser adaptadas para todos os tipos de bolso, por isso um bom planejamento é essencial.
E como você se planejou para essa viagem?
Iniciei o planejamento da viagem com a definição da rota, que deveria priorizar as partes litorâneas que me proporcionassem melhores condições para a prática do surfe. Tendo isso em mente, tracei a rota macro, consultando estradas, passos internacionais, principais cidades e paradas. Com a rota macro definida, parti para o planejamento das paradas mais importantes, como a da época de Natal e Ano Novo, passagem de ferrys e travessias via mar e rios e estimativa de gastos para este trajeto. A partir daí, planejei e defini o que precisaria modificar e revisar no carro, e o que precisaria levar para uma viagem de no mínimo 4 meses com a programação de percorrer 25.000 quilômetros.
Como tem sido até agora sua viagem? O que mais te marcou?
Saí de Joinville, onde moro, no dia 3 de dezembro de 2014 rumo ao sul, passando pelo litoral brasileiro até a fronteira com o Uruguai. Percorri toda a costa do Uruguai e cruzei para a Argentina por um ferry, que se embarca em Colonia del Sacramento (Uruguai) e desembarca em Buenos Aires (Argentina). De lá, segui pela costa Argentina até a metade de sua extensão e em Bahia Blanca iniciei a travessia para o lado oeste do continente americano, em direção à Patagônia Argentina.
Essa parte da viagem foi muito reveladora, pois como o foco da viagem era a costa, não investi tanto tempo em programar o que iria fazer e conhecer no interior. Falando com locais e visitantes da região, fui conhecendo as belezas desta parte da Argentina, o que me surpreendeu muito. Segui para oeste, cruzando para o Chile na região dos vulcões (sul do Chile) e a partir daí mesclei entre litoral e Cordilheira dos Andes até cruzar com a fronteira do Perú, país que me encontro neste momento, nas redondezas de Lima.
É difícil selecionar algo “mais legal” até agora, pois cada região que conheci tem suas belezas singulares, então vou selecionar uma região de cada país como destaque: Reserva Santa Teresa (Uruguai), Cerro Tronador (Pangônia Argentina), Ondas de Pichilemu (Chile) e recém cheguei no Peru, então volto a falar sobre o restante da viagem em outra ocasião.
Já passou por algum perrengue nessa viagem?
Um perrengue por um descuido meu, mas que acabou bem, foi no deserto do Atacama, onde eu estava estacionado perto do centro de Atacama, em um estacionamento onde param muitos viajantes. No momento que eu estava lá, não havia muitas pessoas, e, por isso, resolvi tomar um banho com o chuveiro da minha Kombi (o chuveiro passa por uma janela para fora do carro e de calção de banho, tomo banho de sabonete, shampoo e tudo que tem direito!)
O problema foi que, ao sair da Kombi para usar o chuveiro, me tranquei para fora do carro, apenas de calção de banho, isso começando a anoitecer, no meio do deserto que fica muito frio à noite… ou seja, estava ferrado! Tentando abir a porta de alguma maneira por uns 30 minutos sem sucesso algum, chega um micro-ônibus (que por sorte estava apenas com dois guias turísticos da região) e param do lado da kombi, interessados em saber sobre aquele carro singular de placa estrangeira. Sem nem perguntar por quê eu estava de sunga já quase noite e começando a ficar frio, um dos guias começa a conversar comigo e querer saber sobre a kombi, a minha viagem e tudo mais. No meio da conversa, falo pra eles que tinha feito uma grande besteira e me trancado para fora do carro! Depois de umas boas gargalhadas, eles me emprestaram umas ferramentas e com elas consegui abrir o carro e sair daquela situação!
No litoral norte do Chile, a cidade portuária Antofagasta é ótima para mergulhar!
Alguma vez se sentiu inseguro nas suas paradas, ameaçado ou qualquer coisa do tipo?
Não cheguei a me sentir ameaçado, mas com certeza por tantos lugares desertos e inóspitos que passei, o pensamento de ter algum problema no carro no meio do nada está sempre presente. Uma noite em que eu dormia na frente da praia, em Pichilemu, tinha prendido a bicicleta na parte de fora do carro, com um cadeado. Nesta noite, senti a bicicleta se mexer e acordei assustado berrando para um possível ladrão, mas quando abri a cortina não vi ninguém. Provavelmente a bicicleta estava mal apoiada e se mexeu sozinha!
Em algum momento bate a solidão ou a nostalgia longe de casa?
Muitas vezes bate saudades, algumas solidão, principalmente quando tem um longo trecho para percorrer dirigindo, mas esses sentimentos se amenizam ao pensar no que ainda esta por vir na viagem, o que ainda tenho a conhecer, as pessoas que ainda vou conhecer, o quanto de experiência e aprendizado ainda vou ter.
Ondas de Pichilemu, na praia Punta de Lobos, no litoral do Chile!
Quais são seus planos para quando acabar a viagem?
Tenho alguns projetos parte no papel, parte na cabeça, que penso em me dedicar quando acabar a viagem. Mas confesso que procuro pensar o mínimo possível nestes planos, para que eu não deixe de aproveitar nada do presente. Ou seja, o meu foco está totalmente na realização desta aventura agora! O depois realmente vai ficar pra depois. Mas com certeza penso em buscar um estilo de vida muito mais próximo das atividades e coisas que me fazem bem para o espírito e que me motivam pessoalmente.
Um conselho para quem quer seguir seus passos e fazer uma viagem parecida?
O principal é buscar dentro de si algo que te motive muito. Se você gosta muito de história, a viagem tem que buscar o conhecimento da história de cada lugar que ela vai passar. Se gosta de aventura e esportes radicais, a viagem tem que ser programada para que tenha muitas atividades ligadas a isso. Essas coisas motivam a seguir em frente tanto no momento do planejamento quanto na realização da viagem.
Criar temas para a viagem também é importante. No meu caso, a atividade principal é o surfe, estar em praias belas, em contato com o mar, a areia e toda essa energia que o litoral traz. E entre os temas que criei, comecei por dar um nome para a minha kombi, que se chama Joaninha (como ela tem a cabine mais baixa que a parte de dormitório e tem partes vermelhas, sempre achei que ela se parece com o inseto Joaninha), tenho o meu co-piloto que é um boneco do Homer Simpson (sempre fui aficionado pelo desenho) e por aí vai!
E com certeza, um bom planejamento é fundamental. Tanto sobre a rota, quanto o carro a utilizar, enfim tudo que seja necessário para viabilizar o projeto. Ah, por último, se convencer de que sua viagem é possível, tomar a decisão de seguir em frente e se dedicar a realizar. A partir do momento em que você se compromete com o projeto e toma a decisão de realizá-lo, tudo fica mais fácil e faz mais sentido.
Valeu Thales!!! Adorei a entrevista e as suas histórias! Vai servir de inspiração para muita gente!
Desejo sorte nos próximos kilômetros da sua viagem e que a Joaninha (e o Hommer!) estejam sempre com você, inteiraços! Espero que você se divirta muito e siga viajando e explorando o que o mundo tem de belo! 😀