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Hoje vamos falar de um Tour em Bogotá que merece a sua atenção! Bogotá está virando uma cidade turística como qualquer outra. Várias opções de tours, atrações turísticas, museus, hotéis e hostels pipocam pela cidade que vibra com cada carinha de estrangeiro que aparece para conhecer a capital da Colômbia. Há quem se queixe da presença de turistas, principalmente dos que não falam o espanhol e usam o inglês como principal forma de comunicação. Por sorte, nosso portunhol joga a favor dos brasileiros que resolvem visitar Bogotá e suas várias atrações. É bom praticar o seu “hola que tal?” Mas vamos ao que interessa! Quer um tour interessante por Bogotá? Dá uma olhada!
Estive em Bogotá pela segunda vez, em agosto de 2015, e desta vez a cidade me pareceu bem mais densa que da primeira. Talvez porque antes eu estava em plena época de Natal, o que de certa forma dá uma acalmada nos ânimos da cidade. Bogotá é como São Paulo, muitos carros, muitos prédios, muita gente circulando, muita fumaça, muitos restaurantes, muitos bares, muitos bairros de diferentes classes sociais e muita cor. Este colorido que nem sempre se nota na correria do dia a dia, sendo percebido muito mais facilmente por quem está na cidade a passeio. Me refiro aos graffitis, esta expressão de arte urbana que está cada dia mais presente nas nossas cidades e que, infelizmente, nem sempre temos tempo para apreciar.
Se você está passeando por Bogotá e quer experimentar um turismo diferente, recomendo que você faça o tour dos graffitis pelo centro histórico de Bogotá. A proposta começou quando um rapaz colombiano, que viveu vários anos em Nova Iorque e Miami, resolveu montar uma rota que revelasse aos turistas os muros pintados em Bogotá. Aos poucos o tour foi se tornando mais popular e hoje em dia recebe visitas de todas as partes do mundo, gente que está interessada em conhecer o lado urbano e artístico do centro histórico de Bogotá. O tour é feito a pé, há saída às 10hs ou às 14hs e passa por lugares que sozinhos é difícil conhecer. Alguns becos podem provocar algum sentimento de insegurança, mas isso passa assim que você notar a quantidade de policiais patrulhando a zona. Bogotá, na minha opinião, é mais segura que as ruas de São Paulo.
É interessante saber o porquê dos muros pintados em algumas zonas da cidade, alguns em forma de protesto, outros simplesmente ironia ou diversão. Bogotá tem tanto espaço para arte urbana que os artistas do mundo inteiro buscam fazer alguma contribuição na cidade, como forma de auto-promoção. Pintar um muro em Bogotá é projetar a carreira de grafiteiro em nível internacional. É talvez a cidade com maior expressão urbana na América Latina, mais que São Paulo ou Santiago ou Buenos Aires. O motivo? A cidade deixou de lutar contra os grafiteiros, permitindo que eles trabalhassem livremente nas ruas, em plena luz do dia. E as pessoas da comunidade incentivam e apoiam os artistas. É uma força produtiva: a polícia faz vista grossa ao trabalho dos grafiteiros (ainda é proibido, mas as leis se abrandaram muito ultimamente), os donos dos muros incentivam e por vezes contratam os grafiteiros e mais gente resolve aparecer pela cidade, o que chama mais artistas ilustres em Bogotá. E estou falando de verdadeiros artistas, dá uma olhada!
Originário de Barcelona, Pez, já teve obras expostas em galerias de arte em Nova Yorque, Paris e Londres, assim como muros em Amsterdam, Tokio, Oslo. Sua marca é um peixe sorrindo, um sorriso que, segundo ele, inspira e provoca alegria aos caminhantes de qualquer centro urbano. É essa a sua idéia, como não sorrir com um peixe risonho em plena Bogotá?
Guache, codinome usado por Oscar Gonzáles em homenagem às raízes indígenas, dá força e calor à atmosfera cinza de Bogotá. Suas cores marcantes misturam a tradição com a diversidade e, segundo ele, as ruas são um ambiente muito mais rico que o próprio estúdio. Ele conta que a riqueza dos lugares públicos está no aprendizado, no contato diário com o público e com outros artistas, na recepção e na curiosidade dos outros diante das suas obras, em tempo real. Coisa que o estúdio não oferece.
DJLu é um artista misterioso, conhecido pelo uso de metralhadoras como parte dos componentes de suas obras. Segundo o guia que nos contou sua história, ele busca fazer uma crítica aberta ao sistema, provocando, na pior das hipóteses, um pouco de reflexão. No melhor dos casos, seus desenhos abrirão um diálogo na sociedade, repercutindo em idéias e atitudes para um sistema livre de violência e desigualdade. Pouco se sabe sobre o DjLu longe dos muros, ele se manteve anônimo após sua marca ter sido apropriada e utilizada indevidamente por membros das Farc. Hoje, DjLu é fotógrafo e professor de umas das universidades mais conceituadas do país, mas seu nome real, ninguém sabe!
Nosso passeio de 2h30 foi muito intenso e ficamos com vontade de conhecer pessoalmente cada artista que deixou suas marcas em Bogotá. É também muito curioso ver o respeito que os pixadores ou artistas jovens possuem pelos grafiteiros destacados das paredes da cidade. Muitas obras estão intactas há anos, algo pouco provável de acontecer nas ruas de outras cidades mundo afora. Bogotá respeita a arte de rua e se torna um exemplo para o mundo sobre como lidar com este movimento urbano tão presente na nossa cultura.
Até pouco tempo atrás, Graffiti ainda era proibido em Bogotá, como ainda é em várias outras cidades. Mas um incidente mudou a visão política sobre o tema, quando um garoto de 16 anos foi morto por policiais ao ser perseguido na rua. O crime? Portar uma lata de aerosol. Os policiais alegaram ter confundido o garoto com um assaltante e o dispararam pelas costas, enquanto o jovem corria. Muito foi dito e discutido desde então, Bogotá começou a criar espaços públicos destinados às obras destes artistas; criou-se ambientes para conscientizar a prática dos graffitis; há escolas públicas com muros e espaços reservados aos alunos, para que estes se expressem por meio do graffiti, como parte do currículo escolar; há entidades privadas com espaços orientados aos grafiteiros e finalmente, Bogotá orientou a força policial sobre como proceder com grafiteiros. A profissão deixou de ser um crime, hoje, ser grafiteiro em Bogotá é como qualquer outra profissão que requer trabalho duro e respeito às leis.
Entre tanta discussão sobre a prática do Graffiti em locais não permitidos, parece ser unânime a idéia de que nem sempre a justiça é imparcial. Ao menos é o que nos prova o episódio Justin Bieber, em Bogotá (algo que, infelizmente, também aconteceu no Rio de Janeiro). O garoto canadense que, na minha opinião, é só mais um produto da indústria cultural cujo talento é questionável, resolveu se atrever também na arte do graffiti. Seria até curioso saber o que é que o moleque resolveu pintar na parede, vai que ele tem algo na cabeça além das rimas pegasojas de suas melodias. O problema é que ele aparece escolatado por policiais, em vez de ser perseguido por eles. Que ironia. Para justiça de Bogotá, Bieber foi só notícia: em menos de 24horas os graffitis de Bieber foram substituídos por diversos desenhos, mensagens e pixações. Bom, a conclusão que eu tiro disso é que em Bogotá se respeita a quem merece respeito. #Bogotávive
Para saber mais sobre o Tour do Graffiti em Bogotá, acesse o site deles. O tour acontece diariamente, no esquema Free Walk, ou seja, você decide quanto quer pagar ao guia. Em média, paga-se entre 15 e 20 dólares por pessoa.