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Primeira vez num camping. Um camping na Suíça.
Eu sempre achei muito hippie essa coisa de ir pro meio do mato, fazer uma fogueira e se enfiar numa barraca quando a noite caísse. Na minha imaginação, ir para um acampamento era sinônimo de dormir mal, cheirar mal e não ter papel higiênico. E ainda por cima, ser fumegado por incontáveis metros cúbicos de substâncias tóxicas não identificadas. Não, muito obrigada.
Até que me deparei com preços nada agradáveis dos quartos na alta temporada na Suíça e a minha solução de última hora para aproveitar aquelas paisagens alpinas de cartão postal foi me submeter às dores e mazelas de um acampamento suíço-tô-virando-hippie-me-salva!
Chegamos ao acampamento somente com nossas mochilas – afinal, era uma viagem em trem – e logo nos perguntaram onde estaria o nosso veículo. Eles cobram o espaço do acampamento de acordo com a área ocupada. Como não usávamos um carro, foi cobrado 24CHF a noite para duas pessoas – para os padrões suíços, isso é mais barato que um almoço para uma pessoa.
“Por este preço, eu encaro os mal encarados de um acampamento”. Começo a montar a barraca desanimada para o que teria que suportar, quando olho ao redor. Dividia o espaço com crianças pequenas, senhores de idade, famílias que buscavam algo de natureza, sossego e experiências diferentes. Nenhum sinal de fumaça.
O chuveiro quente funcionava na recepção do camping, incluído no valor da noite. E tinha papel higiênico no banheiro. E secador de cabelo.
Como toda brasileira, tomei meu banho quente no meu tempo, sequei o cabelo e uma vez limpinha e cheirosa, cheguei na barraca. Diego me esperava já duchado e arreglado – o colombiano é sempre mais rápido. Esperei escurecer para escutar o silêncio que gritava no nosso acampamento, gente-onde-está-o-violão-tocando-faroeste-caboclo!?
Foi uma noite mal dormida, de fato. Escolhemos ir para uma montanha alpina no verão escaldante de 10 graus na caída da noite. Numa barraca, você sente os 10 graus chegando junto sem ser convidado bem na ponta do seu nariz. Numa barraca, você dorme de luvas. Numa barraca, você escuta sons que não pensava ser capaz de escutar. Sons que parecem estar ao lado do seu saco de dormir. E é numa barraca que você aprende a valorizar a grande invenção que é um colchão – talvez a descoberta mais inteligente de todos os tempos.
Por outro lado, aprendi que um acampamento pode ser um lugar seguro, estruturado, que te permite viver a natureza de uma forma completamente única. Ao menos eu sei que despertar com o nascer do sol é bem mais agradável do que com o barulho do celular. E que uma noite dessas mal dormidas consegue ser a mais revigorante de todas.
Já voltei a acampar depois dessa noite algumas vezes. Já sei que é melhor acampar com um carro ao lado, e lá você enfia todas as tralhas que talvez necessite. Tipo, um colchão inflável.
Também aprendi que há campings que mais parecem um clube. Na Suíça há lugares como o Camping Tamaro, onde fiquei da última vez, que oferece até tratamento de SPA. E há campings mais simples, com um chuveiro quente e basta. Na verdade, não precisamos muito mais do que isso.
E há os campings selvagens, onde você fica no meio do mato. Sem nada, nem ninguém. Sem banho, nem banheiro. Talvez eu esteja virando hippie mesmo e assim que eu fizer um camping selvagem, confirmo a teoria pra vocês.