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Durante o período que estive no Peru, participei de um projeto de trabalho voluntário para a ONG All Hands. O trabalho? Construir uma escola. Do zero. Trabalho de obra mesmo, levantar parede, fazer o piso, emoldurar janelas e tudo o mais. O trabalho é pesado, mais difícil do que eu esperava. A ONG All Hands tem um cronograma de obra a seguir, e portanto, fazem o possível para não atrasar. E mesmo sendo trabalho voluntário, ninguém fica de corpo mole por lá. Há quem consiga dar um gás insano, há quem trabalhe regularmente, mas todos sempre trabalham empolgados!
Trabalhamos 6 dias por semana, com direito a três refeições, sendo os domingos livres, sem refeição. Despertamos às 6h, quando o café da manhã está liberado (dois pães, um ovo e café). Alguns temperos, margarina e óleo são disponibilizados também. Cada um prepara o seu café da manhã e normalmente compramos nossos complementos – suco, frutas, queijos, geleias, guloseimas.
Algumas manhãs temos reunião às 6h40, com os avisos do dia, recepção de novatos e despedidas. Como estão construindo duas escolas ao mesmo tempo na cidade de Chulucanas, cada voluntário se inscreve em um local de trabalho para o dia. Às 7h todos devem estar nos caminhões que levam ao local das obras. São 20min de transporte em média até o local, onde recebemos os informes sobre o trabalho do dia e nos inscrevemos nas tarefas disponíveis.
Na obra, nos juntamos aos trabalhadores locais e voluntários da comunidade. Os contratados têm boa experiência em obra e seguem com a ONG desde que se instalaram no Peru, ou seja, já conhecem bem a rotina de trabalhar com voluntários de diversas origens e são bem respeitosos.
Às 10h30 temos um intervalo de 10 minutos, onde normalmente compramos um lanche na casa de apoio local, onde oferecem suco a 1 sol e sanduíches a 2 soles.
Às 12h temos o almoço, servidos por duas cozinheiras locais – rotativas, para dar oportunidade a mais mulheres da região – separados em vegetarianos e não-vegetarianos. O local de almoço é próximo às escolas, em um ponto central, em média de 7 min de distância a pé do local de trabalho.
A comida é sempre bem temperada e saborosa. E com a fome de tanto trabalhar, ela fica melhor ainda! Normalmente comemos arroz, algum tipo de feijão, frango ou carne e salada (legumes na maioria). Para vegetarianos, o frango é substituído por omelete e às vezes abacate. Minha dica é variar na inscrição – uma semana como carnívoro e na próxima como vegetariano – para aproveitar a variedade de opções. Às 13h voltamos ao trabalho, com um novo intervalo às 15:00 e retorno à base por volta de 16:30.
É obrigatório o uso de itens de segurança como capacete, luvas, máscara e óculos de proteção, sendo somente o capacete fornecido pela ONG. Na base, ficamos livres até às 18h. Neste intervalo, o pessoal normalmente vai resolver as coisas na cidade (mercado, padaria, farmácia, banco, loja de telefonia) ou fica na base jogando vôlei, tomando uma cerveja, relaxando. A fila para os banhos é grande, e eu tentava sempre ir o mais rápido possível. Às 18h o jantar está liberado e algumas noites às 18h30 tínhamos reuniões com informes gerais, recepções e mais despedidas.
A limpeza da base é obrigatória e rotativa entre os voluntários. Então durante uma manhã, dois voluntários permanecem para limpeza da cozinha, banheiros e arrumação geral dos ambientes comuns. São os chamados carinhosamente de Cinderelas.
Algumas atividades com os locais acontecem naturalmente. Futebol no campo da base, uma cerveja após o trabalho, uma ida à discoteca local aos sábados.
Enquanto eu estive lá, por ser basicamente em período de férias entre Dezembro e Janeiro, não havia muitas atividades com a comunidade, mas normalmente eles organizam aulas de inglês (infantil, juvenil e adulto), aulas de culinária e dança, círculo de sagrado feminino e brincadeiras com as crianças. Participei somente de uma destas atividades e foi maravilhoso. Aprendi a fazer Ceviche e Ajíde Gallina e depois dançamos um pouco reggaeton. Em outra oportunidade, para uma apresentação de recepção da Petra e sua comitiva à base, aprendi também a dançar negroide, um ritmo afroperuano muito divertido.
O grupo é bastante unido! Boa parte do pessoal que estava como voluntário na ONG já tinha tido alguma experiência com o All Hands antes, principalmente no Nepal! Um dia fomos a um vilarejo ali perto onde produzem cerâmicas maravilhosas e muito baratas, também fizemos churrasco no rio, onde a comunidade normalmente vai também. Ali perto da base tem um morro que subimos para apreciar o pôr-do-sol, e há também um passeio para uma cascata ali perto.
Para os mais aventureiros, as praias ficam a uma média de 4h de distância (normalmente para ir nos finais de semana emendados ou folgas obrigatórias – quem passa bastante tempo por lá precisa sair da rotina e descansar).
O staff promove algumas brincadeiras e disputas entre os voluntários com brindes, para estimular a interação e a arrecadação de fundos. Dão cerveja, moletom, souvenirs, chocolates para quem mais arrecada fundos, ou pra quem é votado “voluntário da semana” pelos colegas.
Ainda, conversando com os colegas, chegamos à uma conclusão quanto à linha do tempo do voluntário:
1ª semana: dores musculares.2ª semana: piriri3ª semana: cansaço4ª semana: gripe
2º mês em diante: você aprende a rotina e melhora o desempenho. Haha
Eu, assim como diversos outros, segui certinho essa cronologia. Só não peguei gripe como os demais, porque me preveni bastante com remédios, mas me queimei e tinha muitas cãibras na mão.
Para mim, que esperava muito por essa oportunidade, esta experiência superou as minhas altas expectativas. A ONG é bastante eficiente em seu propósito, ainda mais ao se comparar com ong onde não há muita disciplina ou organização. O repertório do CEO é empresarial, e assim é também a sistematização da ONG. O staff é bastante paciente, respeitoso e trabalhador. A estrutura funciona bem, e a todo tempo vemos o pessoal trabalhando bastante e com um sorriso no rosto.
Convivi com pessoas incríveis neste tempo, cheias de vida, de planos, de reflexões belíssimas sobre a vida. Cada um com a sua experiência, com a sua motivação e bater um simples papo e descobrir um pouco de cada pessoa foi maravilhoso!
Perguntaram para mim o melhor momento que vivi ali e tenho bem claro na memória: Era véspera de Natal e um voluntário brincava com uma criança local com síndrome de down. Ao se despedir, o Alex (a criança), cumprimentou todos os voluntários com um aperto de mão e um sorriso vibrante, desejando feliz natal. Mas parou em frente ao Patrick e abriu os braços para um abraço. O mais profundo que testemunhei em muito tempo. Patrick o abraçou e assim ficaram como se o tempo não importasse. Uma troca genuína de afeto e reconhecimento. Somente quando Alex desejou, o abraço cessou.
Para mim este é o espírito do trabalho voluntário. A doação completa, a entrega absoluta ao propósito, a se fazer presente, a mostrar aos pares que estamos juntos, que a reconstrução destes espaços devastados se faz em comunhão, mãos e corações em sintonia. Que não existe nós e eles, somos todos juntos e precisamos unir as forças para trabalharmos melhor!
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