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O Esablue é um garoto do mundo. Ele é mexicano, já morou em Barcelona, está sempre viajando e resolveu passar uma temporada no Brasil, experiência essa que já dura quase dois anos. Ele vive em Brasília, onde, além de trabalhar, divide o tempo entre seus vídeos, amigos, a namorada Gabi, viagens e conversas de bar.
A gente se conheceu numa destas conversas e foi quando ele me contou um pouco sobre um dos seus vídeos, um resumo da sua experiência depois de 1 ano vivendo no Brasil. Muitas coisas do que ele viu e viveu no Brasil fazem parte de um cotidiano que, para a maior parte dos brasileiros, é algo trivial, mas que para ele foi a mais pura descoberta de um expatriado. O que para a gente pode ser normal, para ele foi um verdadeiro choque cultural, coisa que todos sentimos quando resolvemos deixar os nossos países de origem e viver em outro lugar, independente dos motivos que levaram a essa decisão.
Quando eu vi esse vídeo, senti que poderiamos bater um papo sobre a sua experiência de expat no Brasil, eu queria entender como nós tratamos quem vem de fora no nosso país. Eu sempre tive aquela sensação que nós tratamos super bem e com muito carinho aos estrangeiros, mas, será que ele, como um estrangeiro vivendo no país, estaria de acordo com isso? E bom, aqui vai um pouco da conversa que a gente teve, entre um gole e outro no boteco da asa norte, em Brasília. 🙂 No final vai o vídeo, espero que gostem!
Conta um pouco como foi o começo da sua experiência no Brasil?
“Um choque. No começo foi um choque. Imagina que lá de fora, quando a gente escuta falar no Brasil, pensa logo naquele estereótipo do samba, futebol, cachaça, caipirinha, praias, gente alegre e animada o tempo inteiro. Eu esperava encontrar isso quando vim parar em Brasília. Uma cidade completamente daquele clichê que se conhece do Brasil mundo afora. Brasília é uma mistura de tudo, é gente de todo o país que veio para cá e posso dizer que a cultura daqui ainda está em processo de formação. Chegar como estrangeiro em Brasília é receber um balde de água fria quando as suas expectativas são conhecer o Brasil do comercial na TV!
Nos primeiros dias eu quis conhecer a cidade a pé, como se faz em qualquer outra cidade do mundo! Daí eu percebi que em Brasília não dá pra conhecer nada a pé! Não posso sair do meu bairro para dar uma voltinha no centro da cidade, conhecer as cercanias do meu bairro, ver algo diferente. Para conhecer Brasília você precisa de um carro, ou no mínimo, apostar que um dia passa algum ônibus no transporte público. Na minha primeira semana em Brasília eu fiquei 40 minutos esperando o ônibus passar no ponto, e nada. Até hoje eu ainda não sei quais os horários do transporte público por aqui!”
Nós brasileiros sabemos que o transporte público no país é um caos, sabemos que não dá pra confiar se o ônibus vai passar, e quando passar, se conseguiremos entrar. Sabemos disso e buscamos alternativas, do jeito que dá. Carro, moto, carona, fretado, o que der. Agora, imagina como é a vida de quem acaba de chegar ao país?! Não seria a hora da gente conseguir usufruir de um transporte público decente e para todos?!?
E o que mais você viveu na chegada ao Brasil?
“Com o tempo eu passei a entender mais da cultura e do jeito do brasileiro. O país é lindo, foi aqui no Brasil que eu vi o pôr-do-sol mais lindo na minha vida. Entre amigos, sempre fui bem recebido e muita gente que me conhecia no grupo de amigos em comum acabava me levando para sair, mostravam um pouco mais da vida aqui no Brasil. Assim eu conheci por exemplo algumas comidas que vocês deviam exportar pro resto do mundo: o pão de queijo, o catupiry e a linguiça calabresa! O brasileiro em geral é muito alegre. Vê a vida de forma positiva, as pessoas fazem piada, conversam, mesmo sem conhecer direito a gente. Se divertem com o sotaque, perguntam de onde somos, em geral o brasileiro é um povo pra cima. Mas isso quando você está inserido na cultura.
No começo eu senti muita dificuldade de fazer amizades, de conhecer pessoas. Talvez pelo idioma que eu não dominava ainda, de forma geral senti que os brasileiros não estão acostumados a escutar estrangeiros tentando falar o português. A barreira da língua aqui, mesmo sendo parecido ao espanhol, ainda é algo forte e isso me surpreendeu, eu não esperava por isso. No México a gente escuta sotaque da Argentina, da Colômbia o tempo inteiro, já estamos acostumados com gente falando um espanhol diferente, o que facilita a comunicação. Aqui, eu mesmo depois de um tempo fazendo aula de português, sentia que as pessoas não me entendiam, o que provoca um mal estar quando estamos tentando nos comunicar em outro idioma.”
Durante a nossa conversa, o Esablue me contou que certa vez um rapaz disse a ele que seu sotaque era como o de um “deficiente mental”. Não pude deixar de sentir vergonha por esta história e por este rapaz que tive a sorte de não conhecer. Quando alguém vive em outro país, a primeira barreira a enfrentar é a barreira da língua. E falar português, assim como falar alemão, francês, espanhol, russo, mandarim, é uma tarefa difícil, que merece no mínimo o respeito de todos. Ainda bem que o Esablue não deu muita atenção a este espisódio infeliz e tocou a bola pra frente! 🙂
E como é a sua vida hoje no Brasil?
“Hoje eu trabalho numa agência de publicidade, comecei aos poucos, com visto de estudante e permissão para trabalhar somente 4 horas por dia. Com o tempo, me deram oportunidade de trabalhar como estagiário, e logo passei a crescer, conquistar meu espaço. Hoje meu trabalho continua crescendo e vou conquistando mais confiança das pessoas ao meu redor, cada vez mais gente incentiva e apoia o meu trabalho. Tem oportunidade, principalmente depois que você supera o problema com a língua e a saudade de casa.
Com o tempo comecei a notar que tem muita coisa em comum entre a cultura do México e a cultura do Brasil. A comida, por exemplo é parecida, só falta colocar mais pimenta! 😛 Tem coisas que eu pensava ser exclusividade do México, mas que vi por aqui também, o que foi positivo. Posso dizer que aprendi muito sobre o Brasil nestes últimos meses e neste processo, acabei aprendendo mais sobre o México também.
A experiência de viver fora do nosso país nos proporciona este aprendizado constante sobre dois povos e duas culturas ao mesmo tempo. Adorei quando descobri que aqui também se via o programa do Chaves e que todo mundo tinha um carinho pelos mesmos personagens!
Chaves é o ícone de toda a América Latina. Aliás, na nossa conversa este dia, falamos muita coisa sobre a América Latina e sobre como os brasileiros nem sempre se vêem como parte dela. Faça um teste e pergunte para um amigo se o Brasil faz parte da América Latina. Muita gente vai se confundir, e dizer que não…
Gente, somos todos latino-americanos, os brasileiros inclusive!
E de forma geral, como você o Brasil hoje em dia?
“Acho um país lindo, de uma mistura cultural imensa e bonita de se ver. Os brasileiros vejo como pessoas otimistas e que sabem que têm direito à um país livre de problemas e de corrupção, como foi visto nos protestos na época da Copa de 2014 e até hoje ainda vejo. O povo é carismático e feliz, orgulhoso do seu país e que sabe fazer festa como poucos! Aliás, o Carnaval do Brasil é maravilhoso. Hoje sei que o Brasil é muito mais que o estereótipo do Rio de Janeiro e da Bossa Nova, ainda que o Rio seja uma cidade maravilhosa, realmente! E finalmente, no Brasil se vê a vida de forma positiva, e isso é demais.
E aqui vai o vídeo! Divirtam-se! 😀
Valeu Esau, ficou incrível!