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“Nada – não tem absolutamente nada que eu não faria novamente”, me disse Felipe Sant’ana, de 21 anos que recentemente voltou de uma viagem de “volta ao mundo” por mais de 30 países. Foram 18 meses de viagem, descobertas, aventuras, perigos, lindas fotos e uma ideia: redescobrir a juventude. A juventude do espírito que aprende, descobre, desbrava e corre atrás daquilo que seus sonhos lhe prometem. Para isso ele foi atrás dos maiores mestres na arte de ser jovem: as crianças. Ele conversou, fotografou, dialogou com as crianças do mundo inteiro para enfim entender como não perder a juventude ao longo da vida. E ele finalmente contou todas as histórias em seu livro, “Jovem o Suficiente”, que está sendo lançado através de um projeto de financiamento coletivo.
É possível crescer e amadurecer sem abrir mão da pureza, do ímpeto e da curiosidade juvenil – e eu queria mostrar isso pra mim mesmo e pra todos que se dispusessem a ouvir a história.
O livro é justamente uma carta para o seu melhor amigo, e para todos nós que temos também nossos próprios sonhos e aspirações. E nessa entrevista o Felipe conta (e nos inspira também) como conseguiu realizar o sonho de garoto numa idéia que muitos diziam ser impossível. Boa, Felipe!!!
Se você quiser ajudar a lançar o livro (e claro, receber uma cópia!) acesse o site catarse.me e dê uma forcinha também! São ideias assim que o mundo tá precisando ♥.
A idéia inicial era que o Felipe e o seu melhor amigo iriam fazer essa viagem juntos. Masa viagem acabou sendo só do Felipe, por uma questão de prioridades na vida de cada um. Os melhores amigos já não tinham os mesmos sonhos e o próprio Felipe conta que “tudo aconteceu simplesmente porque tinha que acontecer. Essa, inclusive, é a explicação que ele (o amigo) daria. Minha viagem – e o livro, e tudo o que veio depois – é indissociável do meu amigo e dessa decisão dele. Ele fez parte do sonho, desde o início, e sempre vai fazer – parece que tudo foi escrito por mãos que não são as minhas, nem as dele.”
Eu tinha um dinheiro guardado da época em que entrava em concursos culturais, ganhava alguns, e vendia os prêmios pela internet. E dei aulas em lugares nos quais passei mais tempo, pra me sustentar, então, financeiramente, foi assim. Quanto a ficar sozinho, costumo dizer que relacionamentos são como agasalhos numa tarde fria: quanto mais tu tem, mais confortável tu fica, mas menos consegues te mexer. Solidão é liberdade. Não aquela liberdade romântica dos filmes de aventura, claro, mas aquela liberdade bruta que entusiasma ao mesmo tempo que amedronta, aquela certeza de que, pelo menos em certo momento, nada do que se fizer vai influenciar ou ser influenciado por pessoas com as quais tu te relacionas.
O que mais me incentivou foi essa vontade-necessidade de retomar a juventude, de não deixar a correnteza do tempo me arrastar e levar junto meus sonhos de infância. É possível crescer e amadurecer sem abrir mão da pureza, do ímpeto e da curiosidade juvenil – e eu queria mostrar isso pra mim mesmo e pra todos que se dispuséssem a ouvir a história. A gota d’água que me fez parar de sonhar e começar a realizar o projeto foi justamente a notícia de que meu melhor amigo, como muitos outros, ao meu ver, tinha abraçado a chegada da “vida adulta” e se isolado num lugar incomunicável, onde foi passar por um amadurecimento abrupto.
Não voltei iluminado porque meditei no Laos. Não voltei um alpinista porque escalei uma ou outra montanha nos Himalaia. Não voltei querendo revirar e mudar o mundo imediatamente porque talvez tenha conseguido colocar um sorriso no rosto de uma criança aqui ou ali. Acho que quando ficamos bastante tempo sozinhos, se mudamos, só ficamos, no fundo, mais próximos daquilo que somos em essência. Não acho que todos devam largar seus empregos e sair viajando por aí. Não sou contra os compromissos da vida adulta – eles são essenciais, em muitos a$pectos. Só acho que esses compromissos não podem ser maior que o compromisso com os nossos sonhos. E esse elo com o sonho, com o instinto, com a vocação é uma das coisas muito mais fortes em mim hoje do que antes.
Uma criança hondurenha com a qual conversei disse, inocentemente, que a “juventude é todo o tempo do mundo”. Hoje, no Brasil, convivendo mais com adultos que com crianças, escuto com frequência que alguém “não tem tempo” pra fazer alguma coisa. E eu nunca vi, no mundo todo, uma criança dizer isso! Pra mim fica claro que o garotinho hondurenho tinha razão. Se o tempo é a matéria-prima da juventude, dizer que não se tem ele é assumir que não se é jovem. De novo, voltamos aos compromissos. Claro que, com a idade, assumimos um monte de responsabilidades, o que é natural. Mas “perder o tempo” pra fazer o que gosta, pra sonhar, e pra correr atrás desse sonho, significa começar a perder a juventude. E é isso que vinha acontecendo comigo, e com todos ao meu redor, ainda que eu tivesse só 19 anos quanto parti. Uma vez me disseram que o segredo da juventude é continuar realizando sonhos, que, a cada vez que se faz isso, rejuvenesce-se um bocado. É isso! É preciso estar sempre correndo atrás do que vem de dentro, por mais que se tenha de lidar com as pressões que vem de fora. A juventude conduz a esse equilíbrio entre o mundano e o onírico. Enquanto o adulto duvida da fantasia, a criança duvida da realidade.
O lugar que me fez querer voltar pra casa foi a Índia. Tenho muito respeito pela tradição, pela história e por toda a religiosidade do povo – mas as condições de vida precárias, principalmente nas cidades grandes, geram cenas que quase te fazem perder a esperança no homem. Dehli, sozinha, tem 150 mil mendigos! É uma cidade inteira vivendo em margens de rios ultrapoluídos, cozinhando e tomando banho com aquelas águas…
Todos (os lugares) me emocionaram, fosse pelo vislumbre de uma paisagem recém saída de videogame, fosse pela recepção de uma senhorinha que descobria que eu vinha de fora e me chamava pra tomar um café e comer um pedaço de bolo na casa dela.
Talvez eu tenha mais vontade de voltar é pro Nepal, pra ir mais afundo na região do Tibete. A região é complicada, politicamente, mas, provavelmente, a mais bonita da Terra. Tu te sente divinamente insignificante quando já está a 5 mil metros de altura, levanta a cabeça, e, mais alta ainda, enxerga uma montanha cujo topo teus olhos nem alcançam. O povo é incrível, desde as condições físicas pra se viver subindo e descendo encostas, até as vestes de cores nobres, a solenidade da maneira como se cumprimentam, os olhares desgastados pela opressão mas, ainda assim, com aquela faísca de fé sempre latente, pronta pra explodir. Fascinante.
Faltou ir pra África! E pra Islândia. E pra mais centenas de lugares que estão na minha lista… Escolher países pra se visitar é, ao mesmo tempo, escolher quais ficam de fora. Quanto mais viajamos, mais vemos o quanto ainda temos pra conhecer. Nos lugares pelos quais passei, deixei sim de fazer algumas coisas, que faria se tivesse ganho na Mega Sena, ou se estivesse em um outro tipo de viagem: sobrevoar a Capadócia de balão, por exemplo. Mas nenhuma coisa pela qual eu me martirize. Nada – não tem absolutamente nada que eu não faria novamente. Perguntando isso pra minha mãe, no entanto, talvez tu receba uma resposta diferente 😛
Ela faria com que eu ficasse somente na Europa, talvez, e evitasse algumas zonas de maior risco. E faria a viagem acabar uns 8 meses mais cedo, eu acho (coisa de mãe!). Passei por um incidente que me forçou a voltar para o Brasil, por um mês, por questões de saúde, para me recuperar fisicamente. A partida de volta para a viagem depois disso foi mais difícil que a partida original. Nunca vou esquecer do rosto da minha mãe, inchado pelo choro, quando me despedi dela de novo. Mas faz parte. No fundo, no fundo, esse sonho era tão dela quanto era meu.
Antes e durante, não. Depois, sim. E foi um dos momentos mais lindos de toda a minha vida. Quem ler o livro vai entender melhor. Tenho certeza de que ele entendeu minha atitude. Assim como, hoje, acho que eu entendo a dele.
Que eu quero conhecer ele! E depois, que ele marque uma data de partida agora, e comece a se planejar desde já! A coisa não toma forma do dia pra noite: é preciso achar um propósito, juntar dinheiro, rabiscar uma rota, deixar as coisas em ordem em casa, e correr atrás de algumas burocracias, para então partir. Quanto antes começar, melhor.