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Seis horas de barco (entre ida e volta); avisos de possibilidade de maremotos no porto de chegada da ilha; mais de duas horas de caminhada montanha acima; milhares de mosquitos; calor; suor; cansaço; dor nas pernas; por do sol lindo; cerca de uma hora e meia de caminhada morro abaixo; escuridão total; lanternas de mão iluminando poucos passos à frente; quase duas horas de caminhada pela vila deserta – cidade fantasma – ninguém nas pequenas vielas; falta de sinalização (a não serem as placas de rotas de fuga dos tsunamis); não saber o caminho certo de volta; mais escuridão; stresszinho com o namorado; super ladeira final para chegar ao hotel… tudo isso para ver um vulcão em plena atividade. Vale muito o sacrifício!
Em agosto de 2012 fomos conhecer a Sicilia, uma das grandes ilhas da Itália. Aquela que parece a ‘bola chutada pela bota’. Foi uma viagem linda. Com um carro fizemos todo o passeio pela ilha, passando pelas cidades litorâneas, por algumas cidades do interior e também pelo Parco dell’Etna. Foi lá que subimos, pela primeira vez, o monte de um vulcão. Fizemos o trajeto a pé e não aquele com os jipes que chegam mais próximo do topo. Foi bem legal porque eu nunca tinha visto um vulcão de perto e andar pelo seu monte parecia caminhar sobre terrenos de ovomaltine, rsrs. Mas, o mais marcante de tudo foi a passagem por Stromboli.
O Etna é um dos vulcões mais ativos do mundo e está praticamente em constante erupção, ele fica situado entre as cidades de Messina e Catânia. É o mais alto vulcão da Europa e um dos mais altos do mundo. Devido à recente atividade vulcânica e ao fato de estar numa região densamente povoada, o Etna foi designado como um dos 16 Vulcões da Década pelas Nações Unidas.
Stromboli é uma das oito ilhas do arquipélago das ilhas Eólicas, ao norte da costa da Sicília, no mar Tirreno. Nela se localiza um dos três vulcões em atividade da Itália.
Logo cedo pegamos um barco de Milazzo com direção a ‘Reserva Naturale Vulcano’, outra ilhazinha com vulcões. O seu principal vulcão, Vulcano, só dormia e fumava – essa é a linguagem que escutamos por lá. Isso significa que ele não estava em plena atividade, mas que soltava algumas fumaças – suuuuper fedidas. A ilha toda tem um cheiro bem forte de enxofre – e em algumas partes este cheiro é de fazer passar mal. Tem algumas pessoas que encaram se lambuzar com as suas lamas. Dizem que apesar do fedor, faz muito bem para a pele. Eu não me arrisquei, depois de lá ainda íamos encarar mais uma hora de barco para chegar até Stromboli e achei melhor não incomodar os demais passageiros com o meu mau cheiro. Apesar do odor esta ilha é bem bonitinha e tem paisagens lindas. Ficamos só um período e para aproveitar bem alugamos um quadriciclo. Em poucas horas foi possível rodar pela ilha e parar para descansar em uma praia lindinha, de areia preta e água cristalina. Ali também é possível fazer passeios pelos vulcões, mas como tínhamos pouco tempo, não fizemos nenhum dos muitos ofertados – o nosso objetivo era Stromboli!
Vulcano é um vulcão da ilha homônima. Nesta ilha estão presentes três vulcões: o monte Aria, completamente inativo, que forma um vasto planalto constituído de lava; o Vulcanello; e o monte chamado Fossa de Vulcano, ativo, mas sua atividade vulcânica é pouco frequente, só com emissão de fumo. As suas numerosas fumarolas continuam a emitir ácido bórico, cloreto de amônia e enxofre.
Seguindo com a viagem pegamos outro barco, agora para o nosso destino final a ilha de Stromboli. Assim que chegamos, nos deparamos com várias placas de alertas a maremotos. Com orientações do tipo ‘não entre em pânico’ e explicações de como seguir para as rotas de fuga. O porto é super pequenininho, mas é um ‘grande casino’- uma verdadeira bagunça. Chegamos sem contatar antes o nosso hotel (Bed & Breakfast) e não tinha ninguém para nos buscar. As possibilidades que tínhamos eram pegar uma navetta – umas bicicletinhas que te levam até o hotel, um táxi ou ir a pé. Como vimos que o hotel não era tão longe do porto, resolvemos ir a pé. Só não imaginávamos a ladeira que tínhamos que enfrentar para chegar até lá.
Dica: nas pequenas cidades italianas, avise sempre a hora em que for chegar e pergunte por um serviço de shuttle ou algo parecido. Pode ser muito útil para a sua viagem!
A aventura
Bem, chegamos ao B&B, era uma estrutura bem simples, que pertencia a um casal jovem com uma filhinha de 2/3 anos de idade. O atendimento foi ótimo e tivemos todas as dicas e suporte para chegar até o vulcão. Infelizmente não tivemos muito tempo para nos organizarmos para esta viagem. E até chegarmos lá não sabíamos que só se chegava ao topo do vulcão com guias e que as expedições saiam às 17h30 da tarde. Nós tínhamos acabado de chegar, já passava das 16h, e não tínhamos reservado o passeio em nenhuma das empresas existentes e nem mesmo tínhamos levado o kit obrigatório para o passeio. Não me lembro exatamente, mas este kit tinha que conter muita água, e algumas comidas (tipo barrinhas de cereais, frutas) e uma lanterna – fora a água, não tínhamos mais nada com a gente. Ficamos um pouco tristes, mas a dona do hotel nos explicou que até uma parte podíamos fazer sozinhos, que a trilha era bem sinalizada e que começava logo ali perto do alojamento. Ela nos deu todas as dicas quanto à trilha, nos emprestou duas lanternas e também nos deu uma garrafa grande de água. Oba! Preparamos-nos rapidamente e começamos a subida.
O calor era de matar, às vezes batia uma brisa, mas a fase inicial da subida foi dura. Depois o sol começou a se por e toda a dor das pernas e a falta de fôlego iam desaparecendo conforme víamos as belíssimas paisagens. As diferentes nuanças de cores do céu e do mar tornavam impossíveis não fazer ‘pausas-foto’. O ruim foi que junto ao por do sol passamos a enfrentar nuvens de pernilongos. Era muito pernilongo! Tínhamos passado repelente, mas mesmo assim fomos devorados. Ao longo do trekking ouvíamos os estouros do vulcão, cada vez mais intensos, pois estávamos sempre mais perto e a emoção batia forte. E logo que chegamos ao ponto de visão, fomos presenteados com uma super explosão. Uauuuu!!! Yuhuulll! É difícil contar aqui a sensação que senti. É uma coisa espetacular e indescritível. Sabe aquele tipo de coisa que você sabe que existe, sempre ouviu falar, viu fotos, mas que quando vê ao vivo não consegue acreditar que é de verdade?! É isso! Foi um estupor mais ou menos assim que senti. Queria ver mais e mais. E conforme escurecia ficava tudo mais bonito.
O vulcão
As explosões não são constantes, o que mais se vê são os fumos, as fumaças. Ouvem-se uns ‘booms’ abafados e logo saem as fumaças. Quando a lava sobe é possível escutá-la escorrendo morro abaixo em direção ao mar. Ao longo da descida elas vão esfriando e se transformando em pedras, quando começam então a pipocar montanha abaixo até cair na água. É tudo muito legal e eu não tenho como contar para vocês. É algo que precisa ser vivenciado para ser compreendido em sua completude.
Ficamos um bom tempo ali, admirando e sendo devorados pelos pernilongos. Como a fome estava batendo e a descida era longa, resolvemos voltar. Foi uma hora e meia de descida no breu, em meio a milhares de estrelas, as nossas lanternas iluminavam só alguns passos à frente. Logo no fim da trilha, chegamos a uma pizzaria (que a proprietária do hotel tinha nos aconselhado). Paramos ali, ao pé do vulcão, para comer uma pizza. Aquele lugar é demais! As mesas ficam a céu aberto, com luzes de velas e praticamente todos comem voltados para o vulcão – porque dali dá para ver as explosões e ouvir as lavas descendo rumo ao mar. De repente todo mundo falava ‘uau’ ou emitia alguns grunhidos de encantamento. Foi realmente sensacional jantar ali! A pizza era muito boa e o preço, por mais difícil de acreditar, era completamente normal, nada de extravagante.
Mais aventura!
Mas… A aventura ainda não tinha acabado. Precisávamos voltar para o hotel que era praticamente do outro lado da ilha. Àquela hora já não existiam transportes que podíamos pegar e o conselho do garçom foi: ‘voltem a pé’. E foi como foi. Porém como antes, não foi fácil. A cidade é linda, mas escura, sem muita iluminação nas ruas. As casas são todas iguais, branquinhas (tipo as da Grécia) e as ruas não têm nomes. Voltamos com o instinto de direção do meu namorado, que achava que o mar estava lá, ‘daquele lado’. Por sorte ele é fera e chegamos, depois de uma longa caminhada e alguns estressinhos, sãos e salvos ao nosso quarto. No dia seguinte merecíamos descanso e passamos a manhã relaxando em uma linda praia, também de areia preta e águas cristalinas. À tarde pegamos o barco de volta a Milazzo e continuamos o nosso giro pela Sicília.
- Ficamos noB&B Il Giardino Secreto (reservamos online antes da viagem)
- Em Vulcano alugamos o quadriciclo em um dos milhares negócios de aluguel que existem na ilha.
- Os barcos, compramos todos na hora, direto na bilheteria das empresas. Existem várias empresas que oferecem diversos trajetos e horários. É fácil escolher qual melhor te convém. De qualquer forma, antes da viagem demos uma conferida na internet para ter ideia dos horários e tempos de viagem, assim pudemos nos programar melhor.